Enxofre, gritos, sofrimento. Ele vislumbrava tudo do seu trono de ossos, acariciando uma das cabeças do seu cão Kérberus. Tudo corria normalmente - Tântalo continuava sua tentativa interminável de comer e beber, Sísifo rolava a pedra morro acima e morro abaixo... Nada de novo. Ele, no entanto, parecia preocupado.
- E com o que te preocupas?
Uma cópia muito mais generosa da Monica Belluchi andava provocante na sua direção. Ser um deus tinha suas vantagens, afinal. Ela usava o mesmo figurino do Revolutions, só que não parecia estar tão incomodada de usar uma roupa tão apertada. E ficava bem nela. Nada como silicone de ambrosia.
- Esses malditos astrólogos! - explodiu finalmente o deus, seus cabelos inflamando. Levantou-se do trono, enquanto seu cão modestamente se retirou para comer um semi-deus incauto, que queria arrancar-lhe a coleira. - Eles querem me rebaixar! REBAIXAR, a mim!
- Querido, são astrônomos...
- Que seja. Eles acham que conhecem os segredos deste universo. Só porque criaram aqueles malditos conservatórios, que são na verdade antros de imoralidade e desrespeito! Ahn, como é mesmo o nome desses prédios? Prostíbulos?
- Não. Universidades.
- Bem, quase a mesma coisa. Quem eles pensam que são?
- Estudiosos, acho. - respondeu Perséfone, distraída, lixando as suas unhas.
Hades - ou Plutão, como queiram - sempre teve problemas de auto-estima, graças à parte que lhe coube cuidar. Nada contra os mortos, mas... bem, eles estão mortos. Todos o temem, todos pensam que ele é um deus maligno e ausente de sentimentos... mas poucos se lembram que ele seqüestrou Perséfone, neta de Zeus, só por amor. E não foi bem um seqüestro...
- Estudiosos! Até parece! Eles esqueceram quem começou com os princípios dessa ciência supérflua deles? Aqueles que nos adoravam! Que matavam em nosso nome! Sabe, não nos chamamos deuses à toa! Qual o planeta que eles dão para Zeus? O maior deles! Júpiter!
- Bem, querido... quando ainda eram nove planetas, você era o nono, certo? - sem esperar resposta, a elegante deusa continuou. - Quantos são os círculos do inferno, segundo aquele escritor com o qual você toma chá toda tarde?
- Nove... mas onde você quer chegar?
- E qual o melhor livro dele?
- O Inferno...
A postura já ia mudando - parecia mais relaxado. É, era um escritor aclamado até mesmo por quem nunca tinha lido, e o seu melhor livro, era mesmo o que descrevia os domínios de Hades. Hm, não estava tão mal na fita.
- Isso, bom garoto. Agora, me diga: qual dos maiores deuses tem uma esposa como eu?
sábado, agosto 26, 2006
quarta-feira, junho 28, 2006
Teen Agers
- Bem, e então, como foi?
- Hun, como foi o quê?
- Oras, como foi com ela!
Virei o rosto do computador, onde eu visitava uma página idiota sobre programação de blog, e me virei para ele. Sei lá porque, me deu uma nostalgia. Há quanto tempo eu o conhecia mesmo? Quatro, cinco anos? Vai saber. Afinal, de que importava, afinal? Só provava que eu podia confiar nele.
- Ah, hm, ela ainda não respondeu a mensagem...
- Sim, mas... vocês se beijaram, oras! Isso deve dizer alguma coisa!
- Assim diz a voz da experiência...
- Eu vou fingir que não captei a sua ironia aqui, ok?
Voltei o meu rosto pro computador, em tempo de ver subindo o popup do então MSN. Ela havia logado. Quase que por instinto abri a janela de conversa, e me vi diante de uma tela branca, com o cursor piscando intimidadoramente para mim. Senti meu coração disparar, e o suor descer frio pela nuca.
Imbecil, não é ela quem está aqui na sua frente! É só uma tela de computador! Vamos, cite aqueles poemas de tuberculosos que você leu durante o segundo ano! Diga que adoraria contemplá-la adormecida, com os cabelos soltos, a luz do luar refletindo na sua pele pálida...
- Bem, alguma coisa você vai dizer, não vai?
Antes, contudo, que eu pudesse pensar em falar algo, vi as tão características letras cor-de-rosa brotarem na tela:
'Oi, tudo bom?'
'É, tudo sim...'
Sim, e como continuar dali? Tinha mil perguntas pra fazer, tanto a dizer, tantas frases prontas desde a noite de quase insônia que tivera...
'Olha, eu não posso demorar, que a minha mãe tá chamando... mas pensei em te chamar pra ver um filme. Amanhã, sessão das três. Tchauzinho.'
- É... acho que alguma coisa isso vai dar...
- Hun, como foi o quê?
- Oras, como foi com ela!
Virei o rosto do computador, onde eu visitava uma página idiota sobre programação de blog, e me virei para ele. Sei lá porque, me deu uma nostalgia. Há quanto tempo eu o conhecia mesmo? Quatro, cinco anos? Vai saber. Afinal, de que importava, afinal? Só provava que eu podia confiar nele.
- Ah, hm, ela ainda não respondeu a mensagem...
- Sim, mas... vocês se beijaram, oras! Isso deve dizer alguma coisa!
- Assim diz a voz da experiência...
- Eu vou fingir que não captei a sua ironia aqui, ok?
Voltei o meu rosto pro computador, em tempo de ver subindo o popup do então MSN. Ela havia logado. Quase que por instinto abri a janela de conversa, e me vi diante de uma tela branca, com o cursor piscando intimidadoramente para mim. Senti meu coração disparar, e o suor descer frio pela nuca.
Imbecil, não é ela quem está aqui na sua frente! É só uma tela de computador! Vamos, cite aqueles poemas de tuberculosos que você leu durante o segundo ano! Diga que adoraria contemplá-la adormecida, com os cabelos soltos, a luz do luar refletindo na sua pele pálida...
- Bem, alguma coisa você vai dizer, não vai?
Antes, contudo, que eu pudesse pensar em falar algo, vi as tão características letras cor-de-rosa brotarem na tela:
'Oi, tudo bom?'
'É, tudo sim...'
Sim, e como continuar dali? Tinha mil perguntas pra fazer, tanto a dizer, tantas frases prontas desde a noite de quase insônia que tivera...
'Olha, eu não posso demorar, que a minha mãe tá chamando... mas pensei em te chamar pra ver um filme. Amanhã, sessão das três. Tchauzinho.'
- É... acho que alguma coisa isso vai dar...
sexta-feira, junho 16, 2006
Brain Storm
Brainstorm. A bright idea, sudden inspiration; attack of nerves.
Uma idéia brilhante, uma inspiração repentina; ataque de nervos. Porque a tela branca de postagem do servidor pode ser tanto inspiradora quanto causadora de verdadeiras crises emocionais.
Não há uma tradução - e nem precisa. Tempestade cerebral? É o que sinto quando escrevo. E escrevo "porque não consigo não escrever", como diria o Experimentador de um último romance que seria a sua vida. Escrevo porque as palavras fluem, correm rápidas pela minha mente e rodopiam, brincando com a minha percepção. E quando isso acontece - ah, quando acontece - aí sim eu posso dizer que tive um brainstorm. Um rompante de criatividade pura, pulsante, brilhante, ganhando vida.
E falar do quê? Das folhas farfalhando ao vento, do barulho da gota d'água no lago mais límpido, do som do sorriso de uma amante feliz? Eu posso falar de quase qualquer coisa - diga você.
Uma idéia brilhante, uma inspiração repentina; ataque de nervos. Porque a tela branca de postagem do servidor pode ser tanto inspiradora quanto causadora de verdadeiras crises emocionais.
Não há uma tradução - e nem precisa. Tempestade cerebral? É o que sinto quando escrevo. E escrevo "porque não consigo não escrever", como diria o Experimentador de um último romance que seria a sua vida. Escrevo porque as palavras fluem, correm rápidas pela minha mente e rodopiam, brincando com a minha percepção. E quando isso acontece - ah, quando acontece - aí sim eu posso dizer que tive um brainstorm. Um rompante de criatividade pura, pulsante, brilhante, ganhando vida.
E falar do quê? Das folhas farfalhando ao vento, do barulho da gota d'água no lago mais límpido, do som do sorriso de uma amante feliz? Eu posso falar de quase qualquer coisa - diga você.