sábado, agosto 26, 2006

Pobre Plutão

Enxofre, gritos, sofrimento. Ele vislumbrava tudo do seu trono de ossos, acariciando uma das cabeças do seu cão Kérberus. Tudo corria normalmente - Tântalo continuava sua tentativa interminável de comer e beber, Sísifo rolava a pedra morro acima e morro abaixo... Nada de novo. Ele, no entanto, parecia preocupado.

- E com o que te preocupas?

Uma cópia muito mais generosa da Monica Belluchi andava provocante na sua direção. Ser um deus tinha suas vantagens, afinal. Ela usava o mesmo figurino do Revolutions, só que não parecia estar tão incomodada de usar uma roupa tão apertada. E ficava bem nela. Nada como silicone de ambrosia.

- Esses malditos astrólogos! - explodiu finalmente o deus, seus cabelos inflamando. Levantou-se do trono, enquanto seu cão modestamente se retirou para comer um semi-deus incauto, que queria arrancar-lhe a coleira. - Eles querem me rebaixar! REBAIXAR, a mim!

- Querido, são astrônomos...

- Que seja. Eles acham que conhecem os segredos deste universo. Só porque criaram aqueles malditos conservatórios, que são na verdade antros de imoralidade e desrespeito! Ahn, como é mesmo o nome desses prédios? Prostíbulos?

- Não. Universidades.

- Bem, quase a mesma coisa. Quem eles pensam que são?

- Estudiosos, acho. - respondeu Perséfone, distraída, lixando as suas unhas.

Hades - ou Plutão, como queiram - sempre teve problemas de auto-estima, graças à parte que lhe coube cuidar. Nada contra os mortos, mas... bem, eles estão mortos. Todos o temem, todos pensam que ele é um deus maligno e ausente de sentimentos... mas poucos se lembram que ele seqüestrou Perséfone, neta de Zeus, só por amor. E não foi bem um seqüestro...

- Estudiosos! Até parece! Eles esqueceram quem começou com os princípios dessa ciência supérflua deles? Aqueles que nos adoravam! Que matavam em nosso nome! Sabe, não nos chamamos deuses à toa! Qual o planeta que eles dão para Zeus? O maior deles! Júpiter!

- Bem, querido... quando ainda eram nove planetas, você era o nono, certo? - sem esperar resposta, a elegante deusa continuou. - Quantos são os círculos do inferno, segundo aquele escritor com o qual você toma chá toda tarde?

- Nove... mas onde você quer chegar?

- E qual o melhor livro dele?

- O Inferno...

A postura já ia mudando - parecia mais relaxado. É, era um escritor aclamado até mesmo por quem nunca tinha lido, e o seu melhor livro, era mesmo o que descrevia os domínios de Hades. Hm, não estava tão mal na fita.

- Isso, bom garoto. Agora, me diga: qual dos maiores deuses tem uma esposa como eu?